quinta-feira, 22 de março de 2012

HIV, AIDS e estigma
















Carnaval deixou seus rastros nas ruas afora. Junto com isso, tomou de dúvida os desprevenidos. Diante do teste simples e seguro, um resultado que pode carregar conseqüências para a vida... Na angústia da espera, vem-lhe o envelope lacrado; o resultado é revelado. Para uns, "ufa!". Para outros, nem tanto.



Tão real quanto a angústia de poder se perceber portando um vírus para o qual ainda não foi desenvolvida a cura é a estigmatização e a discriminação sofridas pelos indivíduos vivendo com HIV ou AIDS. A presença desse estigma não se restringe apenas aos processos discriminatórios ou aos sentimentos inerentes ao quadro nos ambientes organizacionais, mas deriva também para as questões relacionais em todas as suas dimensões afetivas. A sensação de impotência e exclusão construídas por uma enorme falta de estrutura psicossocial tanto do indivíduo portador, quanto daqueles outros em seu derredor, despossuídos de informação, formulam uma segregação que carece de ser dissipada.

Prioritariamente entendemos que a questão aponta para uma visão distorcida sobre o tema HIV/AIDS, revelando atribuições pregressas de etnia, promiscuidade, homossexualidade e desemprego, sedimentando outros preconceitos pré existentes, sejam eles racistas, sexistas, etc., o que contribui para um sentimento de desvalorização do portador.


Isso acaba configurando o estigma, que exclui e gera autoexclusão, ao tempo em que tal condição é sentida como algo passível de ataque, denúncia e exposição, com prejuízos pessoais. Expandindo a concepção de estigma, podemos situálo entre o estigma sentido, que implica numa autolimitação, e o estigma efetivado, oriundo da experiência real de discriminação.


Percebe-se ainda que o senso comum associa também ao HIV/AIDS Dentro desse contexto, surgem temáticas coexistentes, tais como ter filhos, relações de trabalho, dificuldades na manutenção e na admissão em empregos, além dos obstáculos enfrentados na construção e manutenção de relacionamentos amorosos, sexo seguro e preconceito.


O fantasma da discriminação desponta como tema comum em todas as questões, trazendo para o indivíduo uma necessidade de se sentir "normal" e se encaixar, a fim de ser tratado com equanimidade, também em seu âmbito laboral.


Nesse último caso, as próprias ausências em função das consultas de rotina e dos cuidados necessários, acabam acarretando constrangimentos e questionamentos dentro de algumas empresas, havendo discriminações veladas, demissões e pedidos voluntários de demissão, ante os sentimentos de exposição a que alguns se veem submetidos, questionando-se o direito à privacidade.



Juntando-se ao fato da condição, existe ainda todo um julgamento moral e preconceituoso em torno do HIV/AIDS e daqueles que convivem com isso, ativando o imaginário mórbido ou contaminado social, cultural ou religiosamente por parte daqueles outros que disparam um olhar pouco aproximado da questão, que abrange dimensões de saúde coletiva. Reconceituar a visão desses quadros crônicos é tão necessário quanto dissolver as projeções sombrias e construídas sobre ignorância e medo, a fim de que sejamos capazes de criar elos sociais que diminuam as relações de marginalização ainda presentes, frente a essa questão. São projeções da sombra coletiva enviadas com tamanha ferocidade e pavor que podem matar algo precioso no ser e segregar de si mesmos aqueles que vivem esse contexto, causando isolamento, depressão e sentimento de abandono.



Um acolhimento psicossocial adequado e a implantação de recursos redutores do estigma, tais como a reeducação social e conscientização bem dirigidas, além da construção de habilidades para lidar com o SOROPOSITIVO serão recursos capazes de reduzir a distância moral e emocional entre pessoas sorodiscordantes. Da mesma forma, o aconselhamento em grupo ou individual e a estimulação da integração podem ser meios adequados para auxiliar o portador a lidar com sua angústia e seus temores, além de todas as imagens sombrias construídas no transcorrer do histórico do HIV/AIDS.


Portar HIV é tão crônico quanto hipertensão ou diabetes, não sendo mais considerado fatal quando da adesão aos sistemas de controle e tratamento indicados, eficazes na imensa maioria dos casos. Todavia, estigmatizar ou agir com preconceito atesta que estamos infectados por algo aterrador: o vírus da ignorância.


TRIBUNA DA BAHIA - BA |
FONTE: SOROPOSITIVO.ORG

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Ubatuba, Litoral Norte, Brazil
Sou a Silmara, uma pessoa simples, risonha e de bem com a vida! Sou Coordenadora do Blablablá PositHivo, desenvolvido em parceria com a Prefeitura Municipal de Ubatuba, que tem como objetivo levar informações de DST/Aids em escolas e comunidades através do meu depoimento.Como coordenadora de literatura da Fundart criei o Projeto Psiu com a finalidade de descobrir e apoiar novos autores.Fui escritora sobre o Projeto Furnas, em Ubatuba.Tenho 25 crônicas classificadas em Concursos nacionais,inclusive o conto O Menininho Perdido classificado no concurso de Antologia Ponte dos Sonhos, na Alemanha e o poema Brava Gente de Ubatuba em Guadalaraja.Sou autora da cartilha Ambiente Vivo e do livro Flash, Você sabe o que eu tenho? Eu tenho amores, dores,senhores, sabores...Eu tenho atitude.E VOCÊ? Silmara Retti é madrinha do DTPK crew

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